Vidas Secas – Graciliano Ramos
O livro conta a história da família de Fabiano e sua peregrinação pela sobrevivência a partir de um realismo crítico e desafiador. O autor substitui as descrições de paisagens, recurso tão característico dos escritores que o precederam pelo drama humano do retirante nordestino.
A família
Sua família, cinco pessoas ao todo contando com a emblemática cadela Baleia fazem pouco mais do que se arrastar pela área da Caatinga. Um dia antes a família contava com seis membros, pois havia um pequeno papagaio de estimação. Não tendo mais o que dar de comer ao pássaro a saída foi alimentar-se dele.
Assim Fabiano, seus dois filhos e a esposa pelo menos conseguiram mitigar um pouco a fome. O mesmo não pode ser dito da cadela Baleia a quem foi destinado apenas a cabeça e os ossinhos de seu velho amigo.
A chuva
Durante a caminhada forçada pelo sertão nordestino Fabiano encontra alguns juazeiros em uma fazenda abandonada, capazes de fornecer alguma sombra para a família descansar. Certamente seus antigos proprietários também fugiram da seca. Baleia farejou alguns preás, conseguiu abater um e trouxe o roedor nos dentes que sem mais demora foi assado por Fabiano.
Para a cadela sobrou novamente apenas os ossos. Antes de dormir ao perceber algumas nuvens no céu Fabiano se enche de esperança. Se vier chuva todos terão trabalho e ele poderá ser o proprietário daquela fazenda abandonada. Choveu de fato, mas com a água surgiu também o proprietário daquela terra e eles foram expulsos do lugar.
A Prisão
Passando por uma cidade Fabiano foi convidado por um soldado amarelo para jogar. Não encontrando as palavras necessárias para declinar do convite do soldado caiu na manipulação e perdeu tudo. Como já era tarde resolveu ir embora então o soldado amarelo por algum motivo tinha cismado com ele e o perseguiu para provocar Fabiano que caiu na provocação e acabou preso.
Na cadeia agora para tentar entender a associação de acontecimentos que combinaram com a sua prisão todavia não estava acostumado a pensar. Não conseguia encontrar uma conclusão satisfatória além de culpar sua esposa. Sinhá Vitória também estava profundamente insatisfeita. Tinha muito medo que a seca retornasse.
Infelizmente ao examinar o orçamento doméstico Fabiano percebeu que não havia mais por onde economizarem para comprar uma cama de verdade que era o sonho de Sinhá Vitória. Afinal o pouco dinheiro que recebia mensalmente só dava para cobrir as necessidades de alimentação e comprar querosene.
O menino mais novo
O menino mais novo assistindo seu pai lutando com uma égua na tentativa de amansá-la quis fazer o mesmo que ele. Não conseguia entender porque sua família não se admirava com as habilidades de seu pai. Tendo no pai um exemplo a ser seguido arquitetou um plano segundo o qual montaria e dominaria uma cabra. Ao colocar o plano em prática ao subir no animal sofreu uma queda humilhante provocando risos do irmão mais velho a quem tentava impressionar.
O menino mais velho
O menino mais velho em certa ocasião ouviu a benzedeira local proferir a palavra inferno. Considerando a palavra extremamente bela e sonora passou a se perguntar a respeito de seu real significado. Perguntou a Sinhá Vitória que distraída disse apenas que se tratava de um lugar muito ruim. Como novas perguntas foram ignoradas decidiu então recorrer ao pai que não lhe deu atenção.
Curioso como toda criança tentou a mãe novamente, dessa vez ela contou que no inferno havia fogueira e espetos. Sem maldade o menino mais velho perguntou se a mãe já havia vislumbrado o inferno. A resposta veio da pior forma. Para que as perguntas parassem a mãe lhe deu um cascudo.
Correndo para fora de casa brotou de um sentimento de injustiça associado a dor física da repreensão materna. Não podia acreditar que uma palavra tão bonita seria motivo para um sentimento tão nefasto.
Inverno
Durante o inverno a família desenvolve o hábito de se reunir todas as noites em volta do fogo que era feito dentro de casa. Mesmo assim o vento gelado que vinha das frestas das paredes não deixava o ambiente confortável. Eram nesses momentos que a família conversava sobre várias coisas. Fabiano recordava a história de sua prisão não sem alterar o que teria acontecido a cada vez.
Detalhes importantes e até partes inteiras de sua narrativa variavam. Porém fazia questão de relatar uma atitude corajosa e vitoriosa durante a brutalidade do maldoso soldado amarelo. Nas primeiras vezes os filhos demonstram encantamento com a história do pai. Mas não demora para que até o mais novo perceba que tudo não passa de invenções.
Festa
Com a chegada da época natalina Fabiano decidiu levar sua família a festa na cidade. Todos com roupas novas partiram rumo à festa. Para chegar até lá eram necessárias três longas horas de caminhada. Ao entrar na cidade os meninos ficaram extasiados com a quantidade de pessoas e a estranheza de cores, luzes e cheiros que viram naquele lugar. Fabiano por sua vez sente-se incomodado com aglomeração dentro da igreja.
Encerrada a missa os meninos correram para as barracas de brincadeiras e Fabiano logo encontrou as barraquinhas de bebidas e de apostas. Apesar da recriminação de sua mulher não tardou para que ficasse completamente bêbado. Sobre os efeitos do álcool sentisse uma valentia sem igual desafiando todos os transeuntes que felizmente não lhe deram atenção.
Sinhá Vitória refletindo sobre todas as privações que passaram até aquele momento e lembrando da terrível seca que os obrigaram a perambular sem destino chegou à conclusão de que afinal de contas a vida não era assim tão ruim.
Baleia
Baleia a cachorra da família estava prestes a morrer. Seus pelos começaram a cair, apareceram manchas escuras em seu corpo. Sua pele tornou-se crivada de sangramentos e feridas, os inchaços em sua boca tornaram muito difícil se alimentar ou até mesmo beber água. Fabiano e Sinhá Vitória chegaram a conclusão que teriam que sacrificar o animal para evitar que continuasse sofrendo.
Obviamente foi uma decisão difícil para toda a família e os meninos ficaram inconsolados. Fabiano deu-lhe um tiro de misericórdia. No seu último suspiro baleia farejou preás e desejou dormir para despertar em um mundo cheio destes deliciosos roedores.
Contas
Fabiano não conseguia deixar de se sentir culpado por ter matado Baleia. Era como se tivesse assassinado um membro de sua própria família. Como se não bastasse passou a discutir cada vez mais com o seu patrão. O dono daquelas terras mantinha Fabiano e sua família em uma condição de endividamento constante. Embora recebesse parcelas referentes aos animais criados.
Fabiano não possuía terra própria e assim precisava vender os animais ao patrão como forma de abater os empréstimos contraídos com ele. Sem perspectivas ou maiores esperanças do que seguir vivendo em casa alheia. Sob constante ameaça de desemprego Fabiano entregou-se a melancolia. Sentimento que se agravou pela sequência de noites estreladas primeiro sinal de retorno da seca.
O soldado amarelo
A seca voltara a se abater sobre a caatinga. Em meio a uma busca por uma égua desgarrada Fabiano percebe uma estranha presença ao se virar com o facão em punho ele se depara com o soldado amarelo. Ali no meio daquele descampado o homem que o havia prendido e humilhado encontrava-se sozinho perdido e desarmado. Fabiano trava uma batalha interna entre o desejo de matar ele ali mesmo e o respeito que sentia por todas as figuras do governo. No final seu extinto pacífico prevaleceu e Fabiano mostrou o caminho ao soldado deixando-o partir ileso.
O mundo coberto de penas
A árvore do mulungu se enchia de aves migratórias que também fugiam da seca e do sol escaldante da Caatinga rumo ao sul. Elas desciam sobre o bebedouro dos animais, ameaçando secar e deixar os animais que ele criava a morrer de sede. Fabiano então munido de sua espingarda passou a atirar nos pássaros descarregando toda a sua tristeza sobre eles. Em sua imaginação Fabiano atribuía a essas aves a responsabilidade pela seca e com esse estado de espírito abateu várias delas levando-as em seguida para servir de alimento para sua família.
Fuga
A Fazenda cada vez mais seca assistia a morte de seus animais. Fabiano e sua família se preparavam para uma nova retirada. A lembrança de Baleia e a ideia de que dessa vez ela não os acompanharia fez Sinhá Vitória chorar. Dessa vez ela afirmava, estava decidida a morar em um local fixo. Uma cidade na qual os seus filhos possam frequentar a escola e ter um destino melhor que o de seus pais. Essa noção era incômoda a Fabiano que não se via capaz de fazer outra coisa que cuidar de bois. Futuro que pensava estar reservado também para os seus meninos. A insistência da mulher porém o venceu caminhariam até o sul e viveriam em uma terra civilizada.