A Cidade e as Serras – Eça de Queirós
Histórico familiar de Jacinto
O narrador do romance é José Fernandes o melhor amigo de Jacinto, o protagonista desta história. A história contada aqui se inicia com seu avô Dom Galeão. Um rico fidalgo que sofre um acidente inusitado. Escorrega em uma casca de banana sendo socorrido por ninguém menos do que Dom Miguel, filho de Dom João VI e regente do trono português.
Dom Miguel era defensor da monarquia absolutista em uma época na qual esse viés político atravessava grande decadência. Prova disso é que ele foi deposto em pouco tempo. Fato que motivou Dom Galeão a abandonar Portugal como prova de sua lealdade, levando consigo Dona Angelina sua esposa.
Todos rumaram para a França a fim de morar em Paris, fazendo da capital cultural europeia seu desterro. Dom Galeão adquire um palacete localizado na avenida Champs Élysées número 202 onde vivem em meio ao luxo e a abundância. O casal tem um filho, Cintinho, o futuro pai de Jacinto. Quando se tornou homem Jacinto contraiu tuberculose e recebeu recomendação médica para sair da cidade a fim de respirar ares mais puros.
Apaixonado por Teresinha a filha de um amigo da família Cintinho se recusa a deixar a cidade luz e se casa com sua amada. Infelizmente falece pouco depois sem poder conhecer Jacinto, seu único filho.
A civilização é urbana
Terezinha dá a luz três meses após enterrar o marido. Durante a infância Jacinto demonstra ser inteligente, saudável e muito forte.
Na idade adulta Jacinto se filia aos ideais do positivismo. Filosofia muito popular na época, considerando que a civilização pode acontecer apenas nas cidades. A vida natural por sua vez tudo que pode fazer é reduzir o homem a animalidade. Jacinto levando essa forma de pensar ao extremo conclui que os homens não podem realizar plenamente suas potencialidades se não estiverem em um ambiente exclusivamente urbano.
Uma vez que as mais modernas tecnologias se encontravam em Paris nosso herói continuava cada vez mais deslumbrado com a vida moderna. Afastando-se sempre que podia de estabelecer até o mais leve contato com os ambientes naturais.
A rotina de Jacinto
O tempo passa e José Fernandes se despede do amigo partindo para Portugal a fim de cuidar de uma propriedade agrícola de seu tio. Jacinto fica abismado com o fato de que seu melhor amigo decidira de livre e espontânea vontade abandonar a civilização para se embrenhar no mato.
Quando Fernandes regressa a Paris após um período de sete anos se hospeda no palacete de Jacinto que agora estava completamente transformado em uma verdadeira síntese de tudo que é verdadeiramente mais moderno e tecnológico no mundo. Ele ficou impressionado com a biblioteca de Jacinto que desejando encerrar nela todas as descobertas dos homens contava com mais de 70 mil volumes.
Além disso seu palacete era uma das poucas residências de Paris que possuía um elevador embora a casa estivesse somente dois andares. Fernandes se surpreende com a rotina atribulada que Jacinto construiu para si mesmo. Sempre promovendo festas e exercendo inúmeros cargos de grande importância a despeito de particularmente não apreciar nenhum deles.
Peixe da Dalmácia
Em uma dessas confraternizações nas quais Jacinto recepcionava figuras de grande destaque na sociedade parisiense. Ele recebe um presente especial do Grão-duque, um peixe muito raro proveniente da Dalmácia no leste europeu. O tal presente desencadeia uma série de incidentes como a queda da energia elétrica que faz com que o precioso peixe fique preso no elevador. Deixando o Grão-duque muito irritado e ofendido.
Maré de azar
Em meio a uma verdadeira maré de azar as terras de Jacinto em Tormes que ficam em Portugal foram atingidas por uma violenta tempestade que destruiu a igreja e o mausoléu da família de Jacinto. Que extremamente pessimista e melancólico mandou reformar a propriedade de seus antepassados.
Compadecido com a tristeza de seu amigo Fernandes o leva para passear por Paris. Desse diálogo Jacinto extrai uma epifania. Se dando conta de que a vida na capital francesa não passa de uma ilusão. Cada vez mais pessimista e triste Jacinto comunica a sua decisão de aproveitar a ocasião da reinauguração da pequena igreja em suas terras e visitar as Serras de Tormes em Portugal.
Após três longos meses gastos em planejamentos e preparativos os amigos partem juntos em uma viagem desconfortável e bastante tumultuada. Suas bagagens são extraviadas e eles chegam apenas com a roupa do corpo em Portugal. Para chegar as Serras tiveram que ir montados no lombo de um burro e uma égua.
A profunda transformação de Jacinto
Jacinto se admirava com a beleza rústica das Serras e chegou até a beber água diretamente da bica e apreciar as tradicionais comidas locais. Ao chegar em seu destino sua intenção era partir para a capital Lisboa. Porém resolveu permanecer nas Serras. À noite teve que dormir em um chão de pedra. O que fez sem reclamar. Aos poucos foi encontrando a paz e se transformando como homem. Reformou então o casarão e ficou para sempre naquelas terras em que havia previsto permanecer apenas dois meses.
Após ter contato direto com a miséria das pessoas da região tratou de melhorar as residências de seus funcionários e elevar os salários. Desse modo tornou-se bastante conhecido como um bem feitor do povo. Desejando construir salas de cinema e escolas para instruir aquela gente.
Nas serras portuguesas Jacinto encontrou o amor, casou-se, teve filhos e passou a conciliar os progressos tecnológicos com a doce vida no campo.