Dom Casmurro – Machado de Assis

Dom Casmurro – Machado de Assis

Um homem de meia idade que exerce a advocacia e nesta fase da vida encontra-se angustiado pela lembrança de seus amores juvenis. Ele revisita os anos de sua juventude a fim de entender os motivos que o fizeram se tornar um homem quieto, calado, encerrado em si mesmo. Isto é, um casmurro.

Desde a infância Bento Santiago, este é seu nome de batismo, estava ciente de que deveria se tornar um padre. Dona Glória sua mãe, perdeu o primeiro filho e para evitar que o mesmo sucedesse em sua segunda gravidez, prometeu aos céus que se o próximo filho vingasse seria encaminhado ao serviço eclesiástico. O pai de Bento faleceu prematuramente e assim sequer teve tempo de se inteirar da estranha promessa de Dona Glória.

Como o parto de Bentinho correu bem e a criança esbanjava saúde e vitalidade seu destino estava traçado. Embora Dona Glória demonstrasse arrependimento por ter comprometido a liberdade do filho a força dos costumes religiosos. Afinal uma dívida com o criador jamais poderia ser desonrada.

Chegando a adolescência a intimidade de Bentinho com a menina Capitu chama a atenção de José Dias. Agregado e suposto médico que vive de favores em sua casa. Ele temia uma evolução amorosa do relacionamento entre os dois jovenzinhos. Então aconselha Dona Glória a enviar o filho ao seminário.

Sensações alheias

Bentinho escondido atrás da porta ouviu as advertências de José Dias e passou a considerar as palavras do agregado. De fato ele havia crescido ao lado de Capitu e com o passar do tempo desenvolveram uma bela amizade. Como eram vizinhos e havia um portão que ligava os pátios de ambas as casas, sua comunicação era extremamente facilitada.

Sempre brincavam juntos, conversavam frequentemente e na prática não se desgrudavam. Embora fossem apenas duas crianças, ele tinha 15 anos de idade ela tinha 14 anos. Bentinho no fundo já sentia que José Dias tinha lhe descoberto. Sempre ficava nervoso e o coração parecia que saía pela boca sempre que se encontrava diante de Capitu. Quem prestasse um pouco atenção via que existia algo mais do que uma mera amizade entre vizinhos.

Na rua

A medida que vão crescendo fica cada vez mais claro que Capitu é totalmente diferente de Bentinho. Age sempre por livre e espontânea vontade, essas características fazem com que ela seja vista por José Dias como uma criatura dissimulada. Quando Bentinho comunica a amiga que terão de se separar, pois ele iria ser encaminhado ao seminário a fim de sagrar-se padre Capitu escreve seus nomes em um muro gesto que leva Bentinho a acreditar que os seus sentimentos amorosos eram correspondidos.

O primeiro beijo

Alguns dias depois Capitu rouba um beijo de Bentinho enquanto ele penteava seus cabelos. O pai da menina entra de repente na sala, mas Capitu consegue disfarçar a situação com gracejos e brincadeiras deixando o pobre menino de boca aberta com seu atrevimento e esperteza.

Quando voltam a ficar sozinhos Capitu conta que está indignada com Dona Glória que lhe privaria do convívio com Bentinho. Ela sugere ao rapaz que peça a José Dias para convencer sua mãe a abrir mão da promessa. Dona Glória era religiosa demais para voltar atrás.

Juramento de amor

Antes de ser enviado ao seminário Capitu e Bentinho trocam juras de amor e o compromisso de se casarem algum dia. Durante seus estudos Bentinho faz amizade com um jovem chamado Escobar. Rapaz bonito, agradável e de personalidade cativante que assim como ele não deseja se tornar padre. A amizade dos dois transcende os bancos escolares e Escobar começa a frequentar a casa do amigo durante as férias. Capitu aproveita a ausência de Bentinho para ganhar a confiança de sua mãe. Ardilosa como só ela conseguia ser, acaba por convencer Dona Glória que seria a nora perfeita caso ela a deixasse se casar com Bentinho.

Primeiro filho

Angustiado com o caminho que estava seguindo precisava encontrar uma solução para sair do seminário. Seu amigo Escobar tenta ajudá-lo, oferecendo um menino desabrigado para ficar no lugar de Bentinho no cumprimento da malfadada promessa.

Os dois conseguem sair do seminário. Escobar que sempre quis ser comerciante realiza seu desejo. Bentinho se forma como advogado. Depois de alguns anos retorna e se casa com Capitu. Escobar por sua vez se casa com Sancha, a melhor amiga de Capitu.

A amizade dos quatro se aprofunda ainda mais. Algum tempo depois Sancha dá a luz a uma linda menina batizada de Capitu. Anos mais tarde Bentinho também se torna pai de um menino batizado com o primeiro nome de seu amigo, Ezequiel.

O filho de Capitu cresce e qual não é a surpresa, seus traços são os de Escobar. O que faz com que Bentinho desconfie de uma traição. Aos cinco anos de idade Ezequiel adquire o hábito de imitar as pessoas ao seu redor. Em tais ocasiões todos se impressionam com a semelhança entre o menino e Escobar.

Certo dia enquanto nadava Escobar se afoga esse falecimento precoce afeta a todos especialmente Capitu. Durante o velório Bento nota o olhar apaixonado de sua mulher para o morto. Isso gera em sua mente ideias suicidas sentindo-se traído e profundamente amargurado Bento compra veneno pensando em tirar sua própria vida. Porém ao observar a grande semelhança de seu filho com o falecido amigo Escobar tenta oferecer uma bebida envenenada a Ezequiel que se recusa a ingeri-la.

O regresso

Quando Capitu percebeu o que ocorreu se revolta e questiona o marido Bento. Ele então revela que sabe da traição e de que Ezequiel não é seu filho biológico. Se sentindo profundamente ofendida Capitu diz que os ciúmes de Bento não poupam nem os mortos. Os dois brigam de forma nunca antes vista e Capitu decide ir embora com o filho para a Europa de onde envia muitas cartas a Bento. Fazendo jus ao seu apelido Casmurro não responde nenhuma delas.

Ele vai ao velho continente diversas vezes mas não ao encontro dela, amargurado que está. Casmurro se entrega a devassidão, mas nenhuma mulher é capaz de fazer com que se esqueça de Capitu que após alguns anos falece. Ezequiel retorna ao Brasil para procurar seu pai. O reencontro gera ainda mais tristeza em Bento que vendo o filho crescido tem a impressão de estar diante de um Escobar revivido tamanha semelhança com o amigo morto.

O reencontro dura pouco, depois de passar alguns dias na casa paterna Ezequiel se despede e também morre logo depois. Bento paga todas as despesas do velório e do funeral confessando que pagaria o triplo para nunca ter que vê-lo novamente. A história se encerra melancólica do ponto de onde se iniciou. Bento é verdadeiramente Dom Casmurro. Um homem triste e solitário encerrado em si mesmo.

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